quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Abrindo fendas. Estruturando pregas.

Trabalho inspirado na música Hit The Road Jack, de Ray Charles da década de 1958, desenvolvido para a disciplina de História do Design II, sob orientação da professora Luciana Florêncio.

Hit The Road Jack
Ray Charles
(Hit the road, Jack and don't you come back no more, / no more, no more, no more) / (Hit the road, Jack and don't / you come back no more) / What you say?
Woah, Woman, oh woman, don't treat me so mean / You're the meanest old woman that I've ever seen / I guess if you said so / I'd have to pack my things and go (That's right)
Now baby, listen, baby, don't ya treat me this-a way / Cause I'll be back on my feet some day / (Don't care if you do 'cause it's understood) / (You ain't got no money you just ain't no good) / Well, I guess if you say so / I'd have to pack my things and go (That's right)
(Don't you come back no more) / Well / (Don't you come back no more) / Uh, what you say? / (Don't you come back no more) / I didn't understand you! / (Don't you come back no more) / You can't mean that! / (Don't you come back no more) / Oh, now baby, please! / (Don't you come back no more) / What you tryin' to do to me? / (Don't you come back no more) / Oh, don't treat me like that! / (Don't you come back no more)

“estoriando” Jack
Jack é um cara malandro, boa vida. Que vive às custas de uma mulher mais velha. Um belo dia ela se farta da situação e, dentro de uma discursão ferrenha (no ritmo dançante e excitante da música), o manda definitivamente embora. O manda “Cair na Estrada”.
Ele tenta de todas as maneiras seduzí-la com seu poder e charme de um galã jovem, a fim de fazê-la mudar de idéia, mas ela está decidida e o manda não voltar nunca mais na sua frente. Ele diz que vai voltar a pé um dia e ela desdenha dele dizendo que ele não é ninguém e não vale nada por que não tem dinheiro e não é bom em nada no que faz e que agora a relação acabou definitivamente e ela não se importa mais com ele.

Depois que Jack vai embora, ela se revolta contra tudo o que represente o relacionamento passado e a ele próprio principalmente. Então ela vinga toda a sua raiva nos objetos pessoais que ainda restaram dele. Pega a sua camisa xadrez da missa do Domingo, aquela com que ele ficava mais bonito vestido... (suspiro) cuja qual, ela tantas vezes também remendou botões (revolta-se novamente) E rasga! E corta! Violentamente. Troca os botões masculinos, por botões em formato de flores. Abre fendas e constróe pregas estruturadas na roupa que vai tomando forma de um kaftan, um quimono, uma bata ou algo qualquer bem feminino.Com pregas macho e fêmeas, ela vai modificando a modelagem e ajustando a roupa ao seu corpo. Pondo as fendas e pregas uma por cima da outra, caracterizando os conflitos vividos entre ambos os sexos e que nunca foram resolvidos. E nessa crise de fim de relacionamento e início de uma nova vida, ela vai sentindo um turbilhão de emoções e lembranças mesclados com o sentimento de liberdade. Segue cortando a roupa de forma radical, como se estivesse cortando tudo aquilo que um dia sentiu.
Segundo a psicanálise, as fendas são a representação dupla de vulva e do rompimento violento com algo ou com o outro. Também, em ambos os sentidos, representa o início da vida e a sua perdição fatal para o homem. As fendas que ela abre são como as marcas das feridas ainda abertas e doloridas do relacionamento que se foi e a perda que o fim causa. No fim, em tom de protesto ela joga tinta preta em cima de todas as fendas abertas (feridas) na roupa. A tinta preta também servirá duplamente como curativo para as mesmas feridas. Cicatrizando-as definitivamente e a deixando livre e curada.
A transformação total da roupa significa o recomeço de uma nova vida. Para muitas mulheres, esse recomeço pode se dar com uma simples faxina em casa, com a troca da decoração, uma ida às compras, ou uma mudança completa de visual. Elas decidem seguir em frente sozinhas em busca de um novo caminho e uma nova vida longe do passado, mas sobretudo valorizando a si mesma em sua condição de mulher.


CURIOSIDADES
A VIDA RETRATADA NA ARTE OU A ARTE QUE RETRATA A VIDA?
Em março de 2008, a artista performática Juliana Notari nos presenteou com mais uma de suas instalações. A expo “Diário de Bandeja” que aconteceu na Galeria Amparo 60, mostrou de forma aberta as confissões pessoais e as buscas psicanalíticas da artista.
Na vitrine de entrada o público se deparava com um quarto de casal todo branco, completamente desarrumado após uma forte briga entre ambos. À primeira vista só se encontra, e choca, a presença imponente de um enorme falo vermelho de borracha. Um olhar a mais e percebemos uma vulva na parede em meio a um espelho quebrado pendurado no alto.Para ilustrar o rompimento, a artista usou a psicanálise e abriu a fenda na parede. Que foi sendo cavada, ou ferida, violentamente com um machadinho. Até que ela encontrasse a cor vermelha da mesma (o tijolo).
[parte do texto acima foi extraído de algum blog que não me recordo agora, perdoe a falha mas considere a citação. =)]


A imagem do quarto mostra desordem e violência. O lado masculino intacto e ileso na cama. Enquanto a parte feminina, frágil, de longe recuada ao fundo, pendurada destroçada e ferida. Quase como uma ressurreição ou como se tivesse criado asas, mesmo que ferida, mas enfim livre.
A expo ilustra, de forma poética na minha opnião, mesmo que de uma maneira e situação íntimas, os dois lados e o saldo gerado a ambos pela situação. Mostra que as feridas são necessárias ao rompimento e à libertação de um dos lados.


A NOSSA EXPO








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