domingo, 9 de setembro de 2007

nEsSa ViDa, iNfEliZmeNte, a GenTe vÊ de tUDo mEsMo...


Programa Parceria nos Morros
Terça-Feira, vistoria na Estação Sul - Ibura, com Dino e Luciana.
Quando chegamos e fui apresentada, o choque!
e aquela enxurrada de sentimentos... dor, compaixão, piedade, solidariedade, revolta, apatia, medo...
dava um medo enorme de olhar lá pra dentro...
Tanto que eu não olhava muito e não sabia se tinha janela, banheiro, onde era a entrada...

Como alguém poderia viver naquelas condições?
Fiz a vistoria da obra às pressas com o tremor da sensação de que ele nos observava de lá...
Os vizinhos não sabiam quem era. Ninguém nunca tinha visto a cara do cidadão. Mas eu me perguntava como havia surgido aquilo sem ninguém notar? da noite pro dia?
Alguns diziam que ele só saia à noite e passava o dia trancado.
as dúvidas chegaram... Era traficante? Era ladrão? Fulgitivo? Ex-presidiário? Violentador? Assassino?
Não queria nem pensar e nem olhar muito...
Só queria sair de lá logo.
Depois tivemos notícias que no decorrer da obra, os vizinhos ofereceram tijolos para construir um 'quartinho' para ele já que a contenção da encosta trazia qualidade de vida para todos.

Mas ele recusou.
E depois de concluída a obra, numa reunião do Programa com a comunidade, ele aparece e finalmente conhecemos a sua história.
Ele era vendedor ambulante no centro do Recife, tinha mulher e filhos. Uma vida mais ou menos normal.
Depois aconteceu algo e ele se tornou catador de lixo. Era inevitável perceber a sua fobia social e o seu distúrbio psicológico, retratados numa face transfigurada.
Aí voltaram os mesmos sentimentos...
Só que com o remorso de ter pensado que seria uma pessoa de má índole e sem escrúpulos.
Nós vivemos num mundo violento que nos deixa com medo de tudo à nossa volta.
Um medo que nos impede de se aproximar e ajudar as pessoas.
E assim com medo, ficamos inertes.
E inertes nos tornamos coniventes.
Coniventes, somos também culpados.
E culpados merecem uma punição.
Então, qual será esta que nos aguarda?
...



mas de uma certa forma, esse episódio reacendeu em mim a vontade de botar pra frente o projeto de fotografar o cotidiano no morro durante a minha estadia no programa.
Os mirantes extraordinários, com todo aquele colorido e monocromia, todas essas contradições...
suas crianças desnudas de pé no chão, os jovens de penteados oxigenados e seus idosos contempladores do alheio ao pé das portas.
vou precisar de muita ajuda, amiguinhos que fiz na parceria... hehehe

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